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O “polêmico” destino das celebridades da Disney e suas relações com a mídia

  • Maíra Macedo
  • 10 de jul. de 2018
  • 6 min de leitura

Pesquisa desenvolvida por alunos da graduação em Comunicação Social investiga os fatores responsáveis pelo comportamento polêmico assumido por ex-estrelas da Disney

As celebridades da Disney, responsáveis por estrelar filmes e seriados da companhia há décadas, parecem traçar um histórico em comum. Lindsay Lohan, Miley Cyrus, Zac Efron, Demi Lovato, os gêmeos Dylan e Cole Sprouse, por exemplo, finalizaram seus contratos e começaram a se envolver em polêmicas. Mas por que isso acontece? Seria pura coincidência, dada a idade com a qual os adolescentes deixam à Disney, ou haveria um fator comum que influenciaria tais comportamentos?

Fundada por Walter e Roy Disney, a Walt Disney Company, se tornou, ao longo de seus 95 anos de existência, a maior empresa de mídia e entretenimento do planeta. O início de tudo foi com o lançamento da primeira animação, com o camundongo “Mickey Mouse”, em 1928. Hoje, se tornou um grande conglomerado, reunindo estúdios cinematográficos, redes de televisão, parques temáticos e diversos produtos.

De acordo com estudantes da graduação em Comunicação Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), orientados pela doutoranda em Comunicação Tatiana Leal, no artigo “Celebridades da Disney: Papéis de Representatividade, Gênero e Tratamento na Mídia”, a força adquirida ao longo do tempo pela empresa faz com que os jovens comecem a querer fazer parte desse “mundo mágico” construído pela Disney. De um lado, artistas que desejavam desenvolver suas carreiras na companhia, e, de outro, o público, que cada vez mais consumia o que era produzido. No entanto, assim como qualquer empresa, nem tudo são flores.

A Walt Disney Company cria estrelas adolescentes que precisam seguir os padrões de comportamento e aparência adotados pela marca. Segundo os pesquisadores, que analisaram a representação midiática das celebridades a fim de compreender a lógica comportamental por trás de suas ações, elas são moldadas de acordo com os valores da companhia, como juventude, pureza e magia, e esse molde de personalidade deve ser reproduzido tanto dentro quanto fora dos estúdios. O artista tem o compromisso de manter a aura construída pelo seu personagem em sua vida pessoal, ou seja, as famosas estrelas disneyanas são tratadas, deliberadamente, como produtos.

Vistas como mercadoria, são exploradas não só pelo seu trabalho, como, também, pela sua imagem. Além disso, são utilizadas para responder uma demanda de consumo do público, sob a lógica da indústria cultural, conceito idealizado por Theodor Adorno, pensador da Escola de Frankfurt. “A celebridade é gerada como um produto humano, um bem de consumo a ser explorado e absorvido em massa, sob a lógica da indústria cultural. As celebridades são, então, produtos globais, uma vez que foram criadas para responder à demanda da universalização do consumo”, explica o artigo.

Dentro da lógica da mercadoria, haveria também uma certa divinização das estrelas da Disney. De acordo com Paul Hollander, teórico também usado para fundamentar a pesquisa, “sua vida privada é pública, sua vida pública é publicitária, sua vida na tela é surreal, sua vida real é mítica”. Essa imagem única é, portanto, uma das causas da rebeldia após o desligamento com a empresa.

É preciso romper com as regras de comportamento impostas pela Disney e construir uma nova identidade e estilo de vida. Para isso, trocam de aparência para superar o ar juvenil. Passam a ter atitudes completamente diferentes, utilizar substâncias ilícitas e se envolver em diversas polêmicas, incluindo escândalos sexuais.

Como estudo de caso, os pesquisadores analisaram a divulgação midiática de dois artistas que trilharam este caminho, Lindsay Lohan e Zac Efron, nos veículos brasileiros UOL, Ego, Pure People e Veja, além de analisar seus resultados no mecanismo de busca do Google.

Lindsay Lohan

A atriz Lindsay Lohan era, no começo dos anos 2000, uma das estrelas mais importantes da Disney. Seus filmes vendiam uma imagem ligada a ideais de juventude, beleza, pureza e feminilidade, além de mostrarem que a identidade da personagem representada transpassa a tela e se funde à imagem da atriz.

Em 2005, Lindsay se desligou da Disney, e no ano seguinte, começou a protagonizar diversos escândalos. Deu entrevistas revelando já ter usado drogas e sofrer bulimia, e também afirmou procurar papéis mais maduros, ao mesmo tempo em que tentava se livrar do título de “teen queen”. A partir daí, a artista começa a se envolver, cada vez mais, em uma vida marcada por exposição midiática excessiva de forma negativa.

Os pesquisadores responsáveis pelo artigo utilizaram o mecanismo de busca do Google para conseguir um panorama geral da imagem de Lohan em veículos online. Ao procurarem seu nome na seção “Notícias”, encontraram 44 links nas três primeiras páginas, sendo 38 deles falando sobre escândalos envolvendo a atriz. Os sites em questão correspondem ao período de 2012 a 2014. Dentre os portais de notícias analisados, quase todas a matérias exploravam somente a internação da atriz e, nas fotos escolhidas, Lindsay sempre estava em alguma audiência judicial, sem maquiagem e de aspecto cansado.

Os estudantes também analisaram a aba de “comentários” durante a pesquisa, encontrando reações que julgavam suas escolhas e aparência comparando-as com sua fase anterior. Lindsay Lohan mudou de queridinha da Disney para garota problema e o público passou a reconhecê-la principalmente como personalidade polêmica, título que a acompanha até hoje.

Zac Efron

Zac Efron, diferente de Lindsay, não teve uma vasta carreira na empresa Disney, mas fez muito sucesso entre 2006 e 2008 com a trilogia High School Musical. Apesar de serem os únicos filmes que protagonizou na companhia, foram a porta de entrada do ator para o estrelato. A partir desse momento, Efron participou de outros longa-metragens, e em todos reproduzia o papel de “garoto perfeito”.

Ao longo de sua carreira, o ator e seus personagens foram amadurecendo, se distanciando aos poucos da identidade que a Disney havia criado para ele. A mídia foi acompanhando essas mudanças, sempre encarando de forma progressiva e não negativa — o oposto do que ocorreu com Lindsay. Talvez essa seja a explicação para o seu envolvimento com drogas não ter tido ampla repercussão. A notícia de que Efron estava na reabilitação foi divulgada somente cinco meses depois, quando o ator saiu da clínica. Em nenhum momento os fãs ouviram seu nome associado a escândalos.

Para serem justos, os pesquisadores utilizaram o mesmo método de análise para Zac. Em todas as matérias selecionadas, no geral, apenas relatavam a situação de forma fria, sem nenhum tipo de sensacionalismo ou julgamento e, alguma vezes, ainda aproveitavam para divulgar a nova produção do ator. Já as fotos, em todos os portais, era sempre de Zac no tapete vermelho ou uma cena de filme. Não é usada nenhuma imagem que possa desmerecer a estética do ator.

A aba de “comentários” também foi analisada e foram encontrada reações, em sua maioria, de lamentação, por se tratar de um homem bonito e com fama de “bom moço” e outros até culpam a empresa pelo ocorrido. Apesar do seu desligamento com a Disney e envolvimento com drogas, Zac Efron nunca foi tratado de forma desmoralizante pela mídia, evidenciando que os escândalos do ator não significa muito perante seu sucesso e suas conquistas.

Questão de gênero

A pesquisa aponta uma reflexão sobre a diferença de tratamentos entre comportamentos femininos e masculinos na mídia. De acordo com as socióloga Rosa Maria Fisher, as mulheres aparecem como pessoas a serem educadas pela própria mídia, que julga suas posturas, exigindo um “cuidado maior de si”, expressão citada pelo filósofo Michel Foucault. As celebridades mulheres, em especial, são mais questionadas e estimuladas a falar de sua vida particular.

Durante a análise das notícias, Lindsay aparece com cerca de 337.000 dos resultados falando sobre seu vício e suas internações, contra 187.000 de Zac Efron. Além disso, existe uma grande exploração da vida pessoal da atriz, através de entrevistas com familiares e amigos. Quanto ao ator, além de uma menor repercussão do caso, as notícias estão quase sempre atreladas à divulgação de um novo trabalho ou à sua recuperação.

De acordo com o artigo, isso acontece por conta de um caráter educador da mídia, que se torna um meio de divulgação para modelos a serem seguidos pela sociedade. Esse papel é ainda mais delineado quando se trata da mulher. Ao mesmo tempo, é requisitada da mulher uma atitude confessante, como visto anteriormente, na qual suas ações devem ser abertas ao público.

 
 
 

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Maíra Macedo - portfólio - desde 2016

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