O relato fiel de um desastre
- Maíra Macedo
- 9 de jan. de 2017
- 3 min de leitura
Resenha
Senhorita Toshiko Sazaki, senhora Hatsuyo Nakamura, doutor Masakazu Fujii, doutor Terufumi Sazaki, padre Wilhem Kleinsorge e reverendo Kyoshi Tanimoto. Seis pessoas desconhecidas e comuns, mas que participaram de um dos maiores acontecimentos da história. Eles são sobreviventes do ataque nuclear em Hiroshima, no dia 6 de agosto de 1945. E graças a John Hersey, o mundo pode ver as consequências dessa bomba pela visão dos sobreviventes.
Hersey, escritor e jornalista norte-americano, permaneceu no local por seis semanas para fazer um artigo sobre o atentado na cidade japonesa. Essa matéria foi um sucesso, de tal modo que mais tarde acabou se tornando um livro, intitulado Hiroshima. Nele, há o relato do ataque a partir da visão de seis sobreviventes, as pessoas citadas anteriormente. Ele se tornou uma das mais importantes como obra jornalística, principalmente por ter contribuído para que os americanos vissem os inimigos como seres humanos e percebessem o horror que eles causaram a essa cidade. Isso mostra a importância do jornalismo na percepção que as pessoas têm do mundo, além de propor uma reflexão ao leitor sobre a degradação humana de fazer isso com seus semelhantes.
Apesar da importância da obra, ele possui uma temática intensa, mostrando a realidade através de uma visão não contada. O autor não só narrou os fatos fielmente como reproduziu o sofrimento e outros sentimentos de quem presenciou a tragédia. Sua intenção foi chocar, alertar sobre a indiferença humana com o outro e fazer as pessoas pensarem na falta de compaixão pelo mundo, e ele conseguiu isso fugindo do sensacionalismo e sendo responsável com o que estava relatando. Porém, isso não muda o fato de que é preciso ser forte para encarar os detalhes dos acontecimentos.
Quarenta anos depois do ocorrido, John Hersey retornou à cidade e produziu um quinto capítulo para o livro, que foi adicionado numa edição mais moderna. Nesse seu retorno, ele contou a situação da vida da Srta. Toshiko Sazaki, Sra. Hatsuyo Nakamura, Dr. Masakazu Fujii, Dr. Terufumi Sazaki, Padre Wilhem Kleinsorge e Reverendo Kyoshi Tanimoto quatro décadas depois. O novo capítulo completou perfeitamente a obra, fechando o ciclo dos seis entrevistados: inicia-se com o ataque da bomba e termina com a recuperação desse povo. Inclusive, é importante ressaltar a eficaz recuperação desse povo. Hiroshima foi devastada, mas isso não os impediu de se reerguer, reconstruir as suas vidas e sempre ajudando o próximo nessa jornada. Isso tudo só foi possível perceber com essa nova versão do livro, por isso sua relevância.
Os relatos são intercalados, e a história dos seis entrevistados é contada aos poucos, através de fragmentos. Esse recurso garantiu um dinamismo e a sensação de simultaneidade durante a leitura, de que as coisas estavam acontecendo ao mesmo tempo, como realmente foi. Esse método também garantiu ao leitor a possibilidade de se colocar no lugar dos sobreviventes e sentir como se estivesse lá, compreender os sentimentos e as sensações das pessoas que sofreram com o ataque nuclear.
Por todas essas características percebe-se que, o que Hersey fez foi o básico de qualquer pesquisa jornalística. Ele reuniu toda a sua apuração, sendo fiel aos acontecimentos e sem pensar apenas em chamar atenção da mídia. Transformou num livro o que poderia ter se tornado uma matéria de revista ou jornal. Não há razão para chamar de jornalismo-literário, pois a obra não tem as características geralmente presentes em livros ficcionais ou não, e isso pode não atrair leitores que buscam algo próximo desse tipo de literatura. Em resumo, o autor fez apenas seu papel de jornalista, diferente de muitas notícias sensacionalistas que foram publicadas nessa época sobre o acontecimento.
Bibliografia:
Título: Hiroshima
Autor: John Hersey
Lançamento: 1946
Local: Estados Unidos
Língua original: inglês
Tradutor brasileiro: Hildegard Feist
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