Ritmo alucinante
- Maíra Macedo
- 4 de jan. de 2017
- 3 min de leitura
Crônica
Teclado sendo digitado freneticamente.
Impressoras trabalhando a todo vapor.
Portas abrindo e fechando constantemente.
Bem vindo ao dia de um jornalista na redação.
- ALGUÉM VIU SE O MEU CAFÉ JÁ CHEGOU? Só assim pra eu não dormir nesse computador!
- Ei, para de gritar querida! Aqui está ser café expresso sem açúcar. Eca, nem sei como consegue tomar essa coisa amarga.
- To cortando o açúcar queridinho! Vivo sentada nessa cadeira atualizando o site, preciso evitar coisas que engordem e além do mais, essa coisa amarga me deixa mais acordada.
- Tudo bem, mas comigo só com muito açúcar. Mas e aí, como está o texto sobre o Lula se tornar ministro?
- Então, eu não consegui sair da mesa hoje porque toda hora o telefone toca com novas. Os repórteres que estão em campo me atualizam pra eu ir completando a matéria.
- Ah, então não deu em nada ainda né? Queria mais saber como andava a situação.
- Pode deixar que vou te avisando. Ah, já que me perguntou sobre política, não era para você estar cobrindo as manifestações?
- Então linda, era. Recebi ordens para ir até lá, ai depois cancelaram porque já tinha um repórter mais perto, e no final fiquei aqui para pegar seu cafezinho.
- Claro, porque você passou de jornalista para meu empregado agora.
- Ah, você sabe que jornalista é multiuso hoje em dia. Só hoje já terminei uma pauta, quase fui pras manifestações, busquei seu café, estou esperando o editor aprovar outras duas pautas e já já vou verificar os e-mails recebidos.
- Caramba! Que homem atarefado. Queria eu sair pra fazer matéria, pelo menos pra levantar dessa cadeira e parar de olhar pra tantos computadores. Mas você sabe né? Na internet não posso vacilar, se eu pisco atualizam primeiro.
- Nossa, eu ficaria louco fazendo o que você faz. Eu não consigo ficar quieto. Preciso sair, ter contato com gente. Meu lance é me comunicar.
- O lance de todo mundo aqui é se comunicar esperto. Mas não dá pra todo mundo ir pra rua. Sem o meu trabalho online, tudo que você colhe fora daqui não serve de nada.
- Eu sei, somos uma equipe! É o que nosso editor sempre fala. Eu só quis dizer que acho que ficaria muito entediado ai sentado, como você faz o dia inteiro.
- Ué, mas não foi você mesmo que acabou de dizer que jornalista precisa ser multiuso hoje em dia? Então, precisa aguentar um dia todo sentado na frente do computador.
- Ok, você venceu. Eu estou reclamando, mas amo tanto ser um comunicador que topo qualquer coisa.
- Eu também amo. Porém concordo com você em uma coisa: ficar aqui no computador cansa. Às vezes quero uma agitação, só para variar. Se a nossa vida fosse como Spotlight, ai sim não teria o que reclamar.
- Spotlight? O filme do Oscar?
- Claro! Aquela história é incrível.
- Não sabia desse seu amor pelo jornalismo investigativo.
- É amor mais pelo esforço deles em descobrir e acabar com aquela rede de padres pedófilos que a Igreja encobria. É de se admirar. Acredito que foi inspirada em pessoas assim que me fez escolher essa profissão. O nosso trabalho de apurar e garantir que a informação chegue até as pessoas é lindo, faz eu me sentir uma mulher importante e detentora de um poder que não pode ser comprado. E sabe o mais legal? O jornalismo continua sendo assim até hoje.
- Tá toda inspirada hoje não é? Isso tudo é efeito do filme? Está se sentindo até uma heroína, cheia de poder.
- Para de graça! Eu já pensava assim sobre a profissão, mas o filme me fez relembrar e acabou me inspirando também. Além disso, não sou eu só que tenho esse poder, você também tem e todo mundo aqui na redação. O poder da informação é melhor que qualquer outro.
- Gostei, sou um herói também.
- Vai embora!! Não dá pra conversar sério com você!
- Ok, ok, parei. Também acho nossa profissão incrível e nosso exercício continua muito importante atualmente. Isso de ter o poder da informação e ser o responsável por transformá-la em notícia não tem preço. Sem contar o que eu disse agora pouco, a gente faz tudo isso sendo pessoas multiuso, pra jornalista não tem tempo ruim. Viu só, disse tudo isso sem nem ter visto o filme ainda.
- Você fala coisas tão bonitas, pra estragar tudo no final. Agora, xô!
TRIIIM TRIIIIM TRIIIIIM
- Adoro quando a gente conversa linda. Começa bem e termina com você me expulsando.
-TCHAU!... Alô, oi Pedro, já tem o restante da matéria? Perfeito, vou começar a digitar.
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